Metamorfoses em curso no mundo do trabalho
As transformações na forma de trabalhar já são presentes em empresas de diferentes setores. Elas vêm gradualmente se adaptando de forma a conciliar prestações de serviço por meios digital e físico. Muitos veículos de jornalismo, por exemplo, passaram a reservar o conteúdo impresso à cobertura mais analítica dos fatos, deixando notícias que exigem imediatismo a plataformas on-line. Tarefas mais mecânicas, contudo, podem ser desenvolvidas por inteligências artificiais. Um exemplo é o robô que integrou a equipe do jornal The Washington Post durante a cobertura das Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016, reportando placar de jogos e quadro de medalhas pelo Twitter. “As tecnologias têm transformado significativamente os métodos e as formas de trabalho no jornalismo, mas, sempre haverá espaço para o ser humano que saberá distinguir o que é ou não notícia ao levar em conta as necessidades que a sociedade têm de se informar”, afirma o professor e diretor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), Fernando Oliveira Paulino, doutor em comunicação.
Outra carreira que pode ser fortemente afetada é a de bancário. As agências de bancos têm direcionado o atendimento presencial a aconselhamentos, operações de maior complexidade e resolução de problemas específicos de clientes, conforme pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) de 2017, tendo como referência dados de 2016. O estudo revela que 34% das transações bancárias são desempenhadas via mobile banking (banco móvel). Os aplicativos permitem que essas operações, além de consultas de saldo, verificação de extrato e pagamentos de contas sejam feitas onde quer que o cliente esteja, poupando custos de pessoal e manutenção de dependências. Outras 23 transações, em taxa percentual, são efetuadas por meio de internet banking. Ou seja, mais da metade (57%) desses procedimentos ocorrem no meio digital. Os espaços físicos, caixas eletrônicos e outros intermédios similares somam 33% das movimentações financeiras. Membro do Sindicato dos Bancários de Brasília, Rafael Zanon, 38 anos, teme que o advento dos aplicativos de banco resulte em demissões massivas.
“Nos preocupa bastante a questão de mão de obra. A informatização tende a reduzir o número de empregos. Claro que não somos contra a tecnologia e o avanço, mas é preocupante”, afirma o bancário brasiliense que está há 17 anos no ramo. “É importante ter os serviços via aplicativos porque facilitam operações, mas nada substitui o atendimento presencial, que tem qualidade e humanidade e do qual muitas pessoas fazem questão”, defende. As mudanças também ocorrem nos caixas de supermercado. Alguns estabelecimentos brasileiros começaram a instalar máquinas de self-checkout (autoatendimento, em tradução livre). A substituição de caixas tradicionais, em que há uma pessoa para passar os produtos do cliente, deve ser gradual. A Amazon inaugurou uma loja do futuro em Seattle, nos EUA, na última segunda-feira (22): ao entrar, parece que você está numa estação de metrô. Ali, não há caixas: ao finalizar a compra, o cliente apenas sai dali com os produtos em mãos, sem precisar tirar a carteira do bolso. O minimercado de 167m² se chama Amazon Go e, para efetivar as compras, é preciso instalar um aplicativo da marca no celular e o registro do que foi comprado é feito a partir do monitoramento de câmeras.
As mudanças também têm chegado ao Brasil. O Hipermercado da Rede Zaffari no bairro Higienópolis, em Porto Alegre (RS) disponibilizou, em 2016, quatro máquinas que suprimem a necessidade de interação humana para fazer compras. O cliente escolhe os itens que deseja levar e passa os produtos sozinho. Entretanto, os terminais permitem adquirir apenas até 10 itens por vez e o pagamento deve ser feito por meio de cartão de crédito ou de débito (afinal, o uso de dinheiro em espécie está em desuso e, na Suécia, o uso de cédulas já tem até data para sair de circulação: 2030). Letiane de Jesus Nascimento, 31, é operadora de caixa no Supermercado Ideal, em Samambaia Norte, e se preocupa com este cenário. “Precisa de uma pessoa, sim, para atender. Imagina alguém com o carrinho cheio de compras passando tudo isso sozinho? Não vai dar certo. Se o cliente estiver com um amigo então, não vai parar de conversar enquanto a fila cresce”, comenta a maranhense, que também lamenta as possíveis demissões. “Vai ter tanta gente desempregada. Não dá nem para pensar em uma coisa dessas. Gosto do meu serviço.”
Fonte: Correio Braziliense