Mercado para jovens deve piorar ainda mais
Em um cenário de altos índices de desemprego, maior concorrência e salários mais baixos, a preferência dos contratantes será por pessoas com maior experiência e qualificação para as vagas
A reforma da Previdência até pode piorar as oportunidades de trabalho para o jovem no País nos próximos anos. Pouco qualificado e em um mercado mais competitivo, a expectativa é que a porcentagem de desocupados entre aqueles de 18 a 24 anos continue subindo.
Os últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a taxa de desocupação de jovens entre 18 e 24 anos no último trimestre do ano passado chega a ser mais do que o dobro da média nacional: 25,2% contra 11,6%.“Apesar de a reforma da Previdência em si não agravar o desemprego, ela pode piorar a situação de emprego para os jovens.
A percepção de que será preciso trabalhar mais e por mais tempo traz um ajuste no mercado onde os trabalhadores tentam se realocar a qualquer custo. Isso beneficia os mais qualificados, que acabam aceitando salários menores para conseguir uma vaga no mercado”, explica a especialista e professora de economia do Insper, Juliana Inhasz.
No ambiente de maior concorrência, a preferência dos empregadores seria por trabalhadores mais velhos e com maior experiência. Ainda segundo o IBGE, por exemplo, a taxa de desocupação daqueles com idade entre 25 e 39 anos era de 10,7% nos últimos três meses de 2018. Para aqueles com idade entre 40 e 59 anos, era de 6,9% em igual relação.Para o professor do Coppead da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Heitor Campani, outro fator que contribui para a baixa qualificação dos jovens é a “má formação” proporcionada pelo próprio sistema de ensino, o que acaba dificultando sua entrada no mercado de trabalho.“Por causa de uma política onde as pessoas eram aprovadas a qualquer custo, existem muitas pessoas que saem despreparadas para o mercado.
O jovem precisa de mais estudo e qualificação para conseguir ter mais atrativos e se tornar competitivo na hora de concorrer a uma vaga de emprego”, afirma.Outro fator que também pode contribuir para o aumento da concorrência no mercado de trabalho seria a implementação de um sistema previdenciário de capitalização.
“Claro que há um período de transição, mas existe muita gente apavorada com a possibilidade da reforma ser aprovada. Isso já traz impactos no curto prazo, com muitos trabalhadores preocupados com sua aposentadoria, tentando emprego em um mercado já muito enxuto. No final das contas, essa concorrência acaba piorando a situação para os jovens”, completa Inhasz.Carteira verde e amarela Dentre as propostas de Jair Bolsonaro na campanha eleitoral, um dos pontos trazidos – e que ainda não foi abordado pelo governo – seria a chamada “Carteira Verde e Amarela”, que prevê um modelo com foco nos novos entrantes do mercado de trabalho, de adesão voluntária e que traria novas regras para um regime de trabalho “flexibilizado”.“A ideia é bacana para incentivar a contratação desses jovens contemplando uma desoneração da folha de pagamentos”, diz Campani.“É necessário, no entanto, muito cuidado. Ainda não há nenhuma discussão sobre o assunto mas, quando vier à tona, alguns mecanismos precisarão ser discutidos a fim de blindar o poder de barganha do empregador e evitar excessos na relação trabalhista”, conclui Inhasz, do Insper.
Fonte: Jornal DCI / CONTEC