Diversidade está na pauta corporativa, mas avanço é lento.
Sociedade Representatividade de pessoas negras, pessoas com deficiência e LGBTQI+ continua baixa, principalmente nas posições de liderança.
Existe nas empresas brasileiras uma evolução da consciência sobre a importância da diversidade das equipes e da necessidade de desenvolver ações que promovam a inclusão. Apesar disso, as desigualdades de raça e gênero no mundo corporativo permanecem em patamares elevados. Mulheres, pessoas negras, com deficiência e LGBTQI+ continuam a ter baixa representatividade, principalmente nas posições de liderança, segundo o “Perfil Social, Racial e de Gênero das 1.100 Maiores Empresas do Brasil e suas Ações Afirmativas”, que será
lançado no dia 18 de setembro, na conferência Ethos 360º, em São Paulo, do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.
A atenção ao tema cresceu: 54,3% das principais lideranças executivas consideravam, em
2010, que a participação de pessoas negras no quadro da diretoria estava abaixo do que deveria, no ano passado eram 86%. Em relação às mulheres, os percentuais foram de 55,2% para 66,7% no mesmo período. Porém, as políticas afirmativas que acompanharam esse aumento de percepção da desigualdade hoje se refletem em um afunilamento hierárquico: a diversidade é maior nos cargos de entrada do que nas posições executivas.
Para estender o escopo da diversidade, é preciso agir de modo intencional, incorporar as iniciativas à visão estratégica da empresa e também seu comprometimento para acelerar os processos, diz Ana Lucia Melo, diretora-adjunta do Instituto Ethos. “Isso também passa por entender esse tema de forma interseccional — a diversidade de gênero, raça, de orientação sexual e etária, entre outras, pode ser desenvolvida de forma mais integrada, de modo a garantir que a sociedade brasileira possa estar mais bem refletida nas maiores empresas do país”, afirma.
A igualdade de gênero, segundo a pesquisa, concentra a maior parte das práticas e ações: 78,2% das empresas participantes desenvolvem iniciativas nesse campo e 51,6% delas têm metas para ampliar a representação feminina em cargos de liderança. Isso se reflete no aumento da presença de mulheres nos conselhos de administração, que evoluiu de 11% em 2015 para 18,6% em 2023.
A baixa representatividade feminina no alto escalão é, segundo o estudo, um problema mundial. O Global Gender Gap Report 2024, publicado pelo Fórum Econômico Mundial, aponta a partir de dados do Linkedin que embora as mulheres estejam perto de ocupar quase metade das posições de nível inicial, sua presença no comando das empresas é inferior a 25%, um fenômeno conhecido como “degrau quebrado”, que impede a evolução das carreiras. Quando a interseccional idade entra na conta, a limitação do avanço fica mais evidente. Entre as empresas que desenvolvem políticas ou ações afirmativas desde a contratação, apenas 7,4% estabelecem metas para ampliar a presença de mulheres negras em cargos executivos. “As empresas estão atuando sob a perspectiva de ‘ranqueamento’ de diversidades, tratando de primeiro combater a desigualdade de gênero para, depois, combater as outras disparidades”, diz Caio Magri, diretor-presidente do Ethos. “O tratamento da disparidade por fases resulta em políticas e práticas isoladas e com pouca força de mudança no cenário atual.” “O empresariado brasileiro está atento às mudanças sociais que estão acontecendo e que a agenda de DE&I, mais do que uma onda passageira, tem condições de ser efetivamente incorporada pelas empresas”, diz Ana Lucia Melo.
“É claro que, para isso, mais do que desconforto com a situação atual, é preciso ação e ritmo, para que o discurso pró-equidade não caia em descrédito.”
O estudo realizado pelo Instituto Ethos, entre 4 de setembro de 2023 e 31 de março de 2024, em parceria com o IPEC – Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica, envolveu um universo de 1.100 empresas, sendo as mil maiores companhias e as cem principais instituições financeiras do Brasil, de acordo com dados do ranking Valor 1000 (2022) — 131participaram.
Fonte: Jornal Valor Econômico