País criou vagas para negros e pardos em 2018, e fechou para brancos
O ano de 2018 terminou com criação de vagas formais para pessoas negras e pardas, mas fechamento de postos para brancos, segundo o Cadastro Nacional de Empregados e Desempregados (Caged). Poderia ser uma notícia positiva – afinal, o desemprego entre pretos e pardos é historicamente maior no Brasil que entre brancos. No entanto, os dados sugerem que a situação é, na verdade, de desigualdade.
A lista de postos que mais criaram empregos formais no Brasil conta com ocupações de menor remuneração, como alimentador de linha de produção, faxineiro, auxiliar de escritório e servente de obras. Enquanto isso, os postos que lideraram as baixas no mercado formal são cargos de supervisão e gerência.
Pedro Rossi, professor do Instituto de Economia da Unicamp, aponta que essa diferença na criação de empregos entre pretos e pardos e brancos estaria ligada “a empregos de pior qualidade, mas não necessariamente de pior qualificação”.
O economista comenta que, após a perda de postos de trabalho em um período de crise, o mercado de trabalho vem voltando a abrir vagas, porém com remuneração menor na comparação com os postos fechados. Nesse sentido, os dados refletem a presença maior de negros e pardos em cargos de baixa remuneração, enquanto os brancos predominam em postos com salários maiores.
“Esse fenômeno é, de fato, uma associação perversa que se faz. Há uma desigualdade no mercado de trabalho”, diz Rossi. “A população negra está associada a uma renda menor.”
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que efetivamente o rendimento médio de negros e pardos é menor que o de brancos. Em 2017, o rendimento real de um trabalhador branco era de R$ 2.615, em média. Enquanto isso, o de um negro ou pardo era de R$ 1.516.
A diferença persiste mesmo quando os dados consideram pessoas com o mesmo nível de escolaridade – ou seja, a remuneração de trabalhadores brancos é maior que a de negros e pardos com o mesmo nível de estudo. Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada no final de 2018.
“Ainda há uma desigualdade estrutural no mercado de trabalho, que trata de maneira diferente pessoas pela cor da pele, a despeito de nível de escolaridade semelhante”, comenta Rossi.
O IBGE também mostra que, historicamente, o desemprego afeta negros e pardos de maneira mais intensa. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgada em novembro de 2018, enquanto a taxa de desocupaçãio entre brancos é de 9,4%, entre pretos é de 14,6% e entre pardos, de 13,8%.
Os dados
Segundo o Caged, em 2018 as demissões de trabalhadores brancos superaram as contratações em 165 mil vagas. Enquanto isso, foram criadas 99 mil vagas para trabalhadores pretos e 325 mil para pardos. O fenômeno repete o que já havia sido registrado em 2017.
As demonstram ainda que os postos que tiveram as maiores gerações de emprego com carteira são de remuneração mais baixa, enquanto entre as ocupações que mais perderam vagas são de cargos de gerência e supervisão. Veja abaixo:
As 10 ocupações que mais geraram empregos formais:
Alimentador de linha de produção: 100.061
Faxineiro: 61.653
Auxiliar de escritório, em geral: 56.511
Servente de obras: 42.372
Atendente de lojas e mercados: 37.079
Repositor de mercadorias: 33.125
Recepcionista em geral: 28.530
Embalador, a mão: 27.497
Assistente administrativo: 25.702
Técnico de enfermagem: 24.420
As 10 ocupações que mais perderam empregos formais:
Supervisor administrativo: -23.712
Gerente administrativo: -20.350
Gerente de loja e supermercado: -12.984
Gerente comercial: -10.550
Motorista de carro de passeio: -10.166
Pedreiro: -9.425
Gerente de vendas: -8.964
Supervisor de vendas comercial: -8.505
Cozinheiro geral: -8.213
Conferente de carga e descarga: -8.173
Fonte: G1 / CONTEC