Bancos disputam mandatos da Caixa
A Caixa Econômica Federal deu início ao processo de desinvestimentos e capitalização com uma agenda frenética de encontros com bancos de investimento. Quem coordena esse processo é André Laloni, consultor contratado pelo presidente da Caixa, Pedro Guimarães, em alinhamento com o secretário especial de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia, Salim Mattar.
Laloni foi chefe de banco de investimento do UBS e do Barclays no Brasil. A Caixa quer sindicatos mais enxutos de assessoria financeira em suas operações — mais por uma questão de eficiência do que de preço. Até por isso, os bancos de investimento adotaram uma postura proativa nesses processos. Afinal, ficar de fora dessas operações pode lhes custar o ano todo de performance.
Na conta dos bancos, a Caixa pode girar pouco mais de R$ 30 bilhões em transações de mercado de capitais só este ano, com um volume no mínimo semelhante em 2020. Os assessores esperam que haja uma espécie de revezamento entre esses consórcios, conforme as especializações. “Tem sido um processo bem organizado e parece que conduzido da forma correta, que não é somente baseada em preço”, diz um executivo de banco.
O primeiro processo, já na rua, é a oferta subsequente (“follow-on”) da resseguradora IRB, que deve ser concluída na semana que vem. A Caixa enviou pedido de proposta (ou RFP, na sigla em inglês) para oito bancos de investimento e fechou com quatro bancos — três deles compõem a base acionária do IRB. Além desses bancos, a própria Caixa participa da operação. “Para o IRB, a RFP pedia detalhamento de qualificação e estratégia de execução, e não falava em ‘fee’ [comissão]”, conta um dos assessores participantes. A oferta do IRB deve girar entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3 bilhões.
Começar por follow-on já é um ajuste da estratégia inicialmente pensada. O banco vem preparando quatro subsidiárias para listagem em bolsa, com oferta pública inicial de ações (IPOs), e espera os volumes mais relevantes dessas operações. Mas passou na frente o plano de follow-on. “São mais rápidas e mais óbvias, aproveitando as altas recentes dos papéis”, explica um executivo ligado ao processo.
Conforme duas fontes, o banco já começou a sondar os assessores sobre uma venda da fatia que detém ou gere em outras estatais, por meio de fundos, como Petrobras, Banco do Brasil e Eletrobras. “O governo entende que não faz sentido ter essas participações cruzadas”, diz um executivo ligado às privatizações e desinvestimentos. Nessas instituições, o percentual é bem menor do que a Caixa detém no IRB, e pode ser feita a venda direta no mercado ou por followon acompanhando algum acionista — como as participações detidas pelo BNDES ou pela União.
“É bastante lógico dar andamento aos processos mais simples e rápidos. A Eletrobras já teve valorização também e vendeu as distribuidoras, mas ainda depende de questões regulatórias, então não é uma venda prioritária”, explica a fonte. Nenhuma dessas, no entanto, teve ainda os pedidos de proposta formalmente iniciados. Entre os IPOs, o mais próximo é o da Caixa Seguridade, com sindicato de no máximo cinco bancos.
A Caixa também prepara a venda de participações detidas pela CaixaPar, como a fatia no banco Pan. “Em geral, há preferência por operações de mercado de capitais do que por operações de M&A por serem mais simples do ponto de vista regulatório, de justificativas ao TCU [Tribunal de Contas da União]”, diz um executivo.
O papel de Salim Mattar tem sido relevante para estabelecer um cronograma com as empresas vendedoras e os assessores financeiros. “Ele é um coordenador do processo todo que, na ponta, é conduzido pelas empresas. Mas é necessário orquestrar isso para que BNDES e Caixa, por exemplo, não venham com grandes operações ao mesmo tempo e acabem disputando investidor”, explica uma fonte.
O empenho do governo nessa área tem surpreendido os bancos. “Temos feito reuniões aos finais de semana com os representantes de governo e estatais para agilizar os processos, o que é muito incomum no setor público”, diz um alto executivo de banco privado. A Caixa não comenta esses processos.
O BNDES deve começar a acelerar o processo de follow-on, começando por empresas de energia, como a AES Tietê (em que detém 28,33% do capital) e Copel (com 23,96%). O banco de fomento, no entanto, ainda está organizando esse processo. “A Caixa é o Lewis Hamilton e o BNDES é o Rubinho”, brinca um executivo, usando analogia para comparar o ritmo que os dois bancos públicos têm dado ao processo de desinvestimentos.
O Banco do Brasil também prepara desinvestimento e pode fazer um re-IPO do banco Patagônia e o IPO do banco Votorantim — mas não há nada engajado ainda sobre esses processos. “O banco está ventilando ideias, por enquanto”, afirma um executivo.
Fonte: Valor Econômico / CONTEC