Banco do Brasil e Governo em descompasso sobre subsidiárias da instituição financeira
O debate sobre a venda de subsidiárias de empresas estatais nos últimos dias evidenciou um descompasso nos discursos do secretário de Desestatização e Desinvestimento, Salim Mattar, e do presidente do Banco do Brasil (BB), Rubem Novaes.
O chefe do BB tem mostrado mais cautela em relação ao esforço de privatizações e não quer abrir mão de algumas subsidiárias consideradas “joias da coroa” do banco, ainda que considere fazer parcerias e aberturas de capital. Mattar, por sua vez, fala enfaticamente em vender as subsidiárias e deixar as empresas estatais “magrinhas”, ou seja, com o menor número de empresas possível.
“Deverão permanecer como estatais a Petrobras, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, só. Significa um excelente ‘guidance’ para o nosso trabalho. Então nós temos já o apoio do presidente ao reafirmar que somente estas três empresas deverão permanecer. E elas deverão permanecer bem magrinhas. Vamos vender todas as subsidiárias delas”, disse Mattar, na última terça-feira em São Paulo.
A situação gerou ruído, inclusive nos bastidores do corpo técnico do BB, especialmente por conta da instituição financeira federal ter capital aberto. A situação, segundo apurou o Valor, acabou levando a uma conversa para se tentar um alinhamento de discurso entre o Novaes e Mattar e evitar novos ruídos.
Embora haja dentro do governo uma convergência de visões sobre a necessidade de se privatizar os ativos públicos, a decisão do presidente Jair Bolsonaro de poupar o Banco do Brasil (além da Caixa e da Petrobras) faz com que o atual comando da instituição tenha que ter maior cuidado para lidar com as subsidiárias.
Há mais de um motivo para isso. O primeiro deles, de acordo com fontes, é que empresas como a BBDTVM, a BB Seguridade e as subsidiárias de cartões e investimentos do banco são vistas como elementos centrais para garantir a competitividade do banco perante seus principais concorrentes privados, Bradesco e Itaú. Além disso, a leitura é que essas empresas têm alto potencial de geração de valor para a instituição federal, uma avaliação que já vem sendo feita pela direção do banco desde os tempos de Paulo Caffarelli na presidência, que chegou a cogitar a recompra de ações da BB Seguridade, o que não era possível por questões primeiramente de capital da instituição.
Nesse sentido, fontes citam relatório recente divulgado pelo Citibank apontando que o retorno sobre o patrimônio do BB seria maior caso não houvesse sido aberto o capital da subsidiária.
Novaes já disse publicamente que cogita fazer uma abertura de capital da BBDTVM ou partir para uma parceria (ou ambas as coisas), mas sem abrir mão do controle da subsidiária e da geração de valor e de negócios que ela gera para o banco. O mesmo raciocínio vale para as áreas de cartões e investimentos. Nesse último caso, a visão é que, como se quer desenvolver cada vez mais o mercado de capitais, manter com o banco o controle da empresa de investimentos é importante para maior geração de valor para instituição.
Outra preocupação que foi levantada nos bastidores do banco com a fala de Mattar é sobre o momento da venda de ativos e em não se passar a impressão de que se está numa corrida para se desfazer de negócios que geraria preços desfavoráveis. Dessa forma, a cautela mostrada por Novaes em suas manifestações públicas aponta para a leitura de que mesmo os processos de venda de ativos não estratégicos serão tocados de forma a se obter o melhor preço possível, o que depende inclusive de fatores macroeconômicos, como maior ou menor crescimento do país.
Fonte: Valor Econômico / CONTEC