Reforma da Previdência eleva a previsão de alta do PIB para 2019
A iminência de aprovação de uma reforma da Previdência mais rígida do que a proposta pelo governo Michel Temer surte efeito positivo nas previsões dos economistas para a atividade deste ano. Após onda de otimismo ser antecipada pelo mercado de capitais, em razão da sinalização de que a proposta será mais “robusta”, foi a vez do Boletim Focus, relatório semanal divulgado pelo Banco Central (BC), revelar melhora nas expectativas, com projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,57% em 2019, ante estimativa de 2,53% da semana anterior.
É o maior índice desde junho de 2018, quando especialistas tentavam quantificar o impacto da greve dos caminhoneiros na economia. O baque foi expressivo e frustrou as projeções para a atividade do último ano, o que também contaminou as expectativas para 2019.
A alta de 3% ainda é considerada como improvável por analistas. Eles entendem que os elementos, até então, não mostram que o PIB do Brasil vai testar patamares maiores. O consumo e o investimento estão baixos graças ao número elevado de desempregados. Mesmo com a aprovação da reforma, não haverá significativa mudança nesse cenário, segundo o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira.
“É preciso diferenciar. Ainda que os ativos tenham subido fortemente, não podemos associar diretamente esse ganho à economia real”, afirmou. “É pouco provável que cheguemos em 3%, até porque a reforma não tem impacto de custo a curto prazo. Será preciso também grande empenho do governo para recuperar as finanças de estados e municípios”, afirmou.
A apresentação de uma reforma da Previdência que traz economia mais forte em 10 anos, como vem sendo aventado por parte da equipe econômica, deixa os investidores confiantes de que haverá uma “rearrumação” das contas de forma eficaz, possibilitando a retomada de previsibilidade às empresas.
Previsibilidade
Para Bruno Vinícius Ramos, professor do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da Universidade de Brasília (UnB), o mercado monitora, positivamente, o movimento de ajuste fiscal. “Neste momento, há um viés otimista na economia, aguardando as reformas que foram prometidas. Para se ter ideia, a proposta ventilada pelo governo Bolsonaro tem a intenção de economizar R$ 1 trilhão dos cofres públicos nos próximos 10 anos, enquanto a proposta de Michel Temer economizaria R$ 689 bilhões no mesmo período. Ou seja, esses dados geram um foco de otimismo na atividade econômica do país”, disse.
Também teve influência na melhora das projeções para atividade do país o fato de o governo atacar outra ponta do rombo da Previdência, as fraudes. É esperado, para hoje, a publicação de uma medida provisória que prevê um pente-fino nos benefícios previdenciários. Pelos cálculos da equipe econômica, com isso, poderia se evitar gastos de R$ 17 bilhões a R$ 20 bilhões.
O Boletim Focus mostrou também que a perspectiva para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve leve alta entre os economistas. A previsão é de que, agora, o IPCA encerre 2019 a 4,02%, enquanto que, na última pesquisa, a estimativa era de fechamento a 4,01%. Já a taxa Selic foi mantida em 7%, mesma previsão da segunda-feira passada, enquanto que, para o mercado financeiro, a estimativa é de que o dólar encerre o ano negociado a R$ 3,80.
“O IPCA encerrou 2018 abaixo do centro da meta, ou seja, estando bem favorável, acompanhando a manutenção das taxas de juros. Para 2019, o BC leva em consideração a confirmação de todas as expectativas para a economia brasileira. Caso se concretize, o Brasil deve receber uma injeção forte de investimentos, e, nesse contexto, teríamos um aumento de renda a partir da oferta de emprego, gerando uma pressão de alta de consumo”, explicou Ramos.
De acordo com Flávio Serrano, economista da Haitong, o “arcabouço macroeconômico” que o governo diz adotar é algo visto como positivo pelas instituições financeiras. “Assim, isso pesa um pouco nas perspectivas apontadas”, analisou, apesar de sinalizar que a projeção doméstica é mais otimista que a internacional, a qual aponta para sinais de desaceleração econômica mundial.
Fonte: Correio Braziliense / CONTEC