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setembro 19, 2019

Com crise, famílias pobres ou sem renda do trabalho já são mais da metade dos lares do País

Desemprego no País recuou, mas taxa ainda é de 11,8%

Levantamento do Ipea mostra que 52% dos lares têm esse perfil; índice que mede a desigualdade de renda no País piorou desde 2016 (Daniela Amorim)

Durante os anos de recessão econômica e de crise no emprego, aumentou a proporção de lares brasileiros sem qualquer renda proveniente do trabalho, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). As famílias mais pobres ou simplesmente sem renda de trabalho representam mais da metade (52%) dos lares brasileiros.

“Isso é fruto do desemprego. A crise foi muito forte, essas pessoas foram as primeiras a perder o emprego, mas também as que têm mais dificuldades de conseguir uma recolocação no mercado de trabalho. Esses trabalhadores são os que têm menor grau de instrução. Mesmo durante a crise, a ocupação não caiu entre os trabalhadores mais qualificados. Esse trabalhador não necessariamente está atuando na área de formação, mas ele não está desempregado”, justificou Maria Andreia Lameiras, técnica da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea.

No segundo trimestre de 2019, 22,4% dos domicílios do País não possuíam renda do trabalho. No segundo trimestre de 2014, quando começou a crise econômica, essa fatia era de 19,0%.

“Isso tem muita relação com aquele desemprego de longo prazo, pessoas há mais de dois anos procurando emprego, mais pobres, com menos escolaridade. Mesmo que o mercado tenha começado a gerar vagas, esse trabalhador continua nessa estatística da pobreza, nesses domicílios sem renda”, lamentou Lameiras.

Já as famílias de renda muito baixa, que recebiam menos de R$ 1.638,70 mensais, representavam 29,6% de todos os domicílios brasileiros no segundo trimestre deste ano.

O Ipea aponta uma elevação acentuada do índice de Gini – medida de desigualdade de renda numa escala de 0 a 1; quanto mais perto de 1 maior é a desigualdade – desde 2016, com destaque para a desigualdade da renda do trabalho por domicílio.

O índice de Gini da renda domiciliar do trabalho subiu de cerca de 0,514 no primeiro trimestre de 2014 para 0,532 no segundo trimestre de 2019. O aumento deve-se à retomada da ampliação da desigualdade entre os extremos da renda.

No primeiro trimestre de 2019, a renda domiciliar do trabalho das famílias mais ricas era 30,1 vezes maior que a renda recebida pela faixa de brasileiros com renda muito baixa. No segundo trimestre, essa diferença aumentou para 30,5 vezes, praticamente alcançando o pico da série histórica (30,6) atingido no terceiro trimestre de 2018.

“Quando a gente olha o salário nominal (sem descontar o efeito da inflação), ele cresce numa proporção menor entre os mais pobres do que entre os mais ricos. Fora isso ainda tem a inflação, que tem sido mais forte para as famílias mais pobres dos que para as de renda mais alta, com peso muito grande dos aumentos na energia elétrica, no ônibus urbano e no aluguel”, explicou Lameiras.

O levantamento do Ipea tem como base os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua, apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Os autores do estudo lembram que as vagas formais que têm sido geradas no País possuem remuneração máxima de até dois salários mínimos. Apenas as duas primeiras faixas salariais – os empregos com remuneração de até um salário mínimo e de um a dois salários mínimos – vêm mantendo saldos positivos desde 2017.

“Para os demais níveis salariais, a dispensa de trabalhadores é maior que o total de admissões. Adicionalmente, nota-se que os efeitos da crise econômica sobre o mercado de trabalho, sobretudo em 2015 e 2016, geraram não apenas uma expressiva dispensa de trabalhadores como também uma queda dos salários de contratação, dado que a única faixa de emprego com saldo positivo no período era a que remunerava até 1,0 SM (salário mínimo). A partir de 2017, o país voltou a gerar vagas com salários entre 1,01 e 2,0 SMs, no entanto em proporções mais modestas”, notaram os autores do estudo do Ipea.

Fonte: Estadão / CONTEC
Foto: Tiago Queiroz/Estadão