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janeiro 21, 2019

BB e Caixa vão mudar estratégia em busca de maior competitividade

O discurso de austeridade dos gastos transbordou a Esplanada e passou a ser prioridade também dos bancos públicos. O ministro da Economia, Paulo Guedes, escalou dois comandantes liberais para as instituições públicas, que prometem uma nova era no setor. A intenção da equipe é deixar a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil (BB) com mais cara de empresa, ao reduzir subsídios e aplicar taxas de mercado. O governo terá, também, uma tarefa árdua para aumentar a competitividade no setor, que está concentrado nas mãos de cinco instituições financeiras.

A missão será “desestatizar” o mercado de crédito, ou seja, reduzir a participação pública nos empréstimos em 2019. O crescimento econômico mais forte deve permitir que o estoque de financiamentos seja o maior dos últimos cinco anos.

De acordo com os presidentes da Caixa, Pedro Guimarães, e do BB, Rubem Novaes, é necessário ampliar a concorrência no mercado de crédito e fazer com que os recursos cheguem aos que mais precisam, como consumidores de baixa renda e empresas menores. Economistas ressaltam que o discurso mostra a continuidade de um trabalho que já vinha sendo feito.

A principal preocupação dos presidentes empossados é com o desempenho financeiro dos bancos públicos, deixando-os com mais cara de empresa privada. O BB é uma instituição de capital aberto e, segundo Novaes, passará a ser mais “compatível com o interesse de acionistas minoritários”. O dirigente ressalta que é preciso vender alguns ativos, desde que não sejam as “joias da coroa” e sinaliza que há uma posição do governo eleito de diminuir subsídios para financiar o setor agrícola com juros mais baixos, mas que ainda não há definições.

Dívida
O presidente da Caixa deu mais detalhes de como será a gestão no banco. A intenção é adotar políticas que reduzam a dívida da instituição com o governo federal, que é de R$ 40 bilhões. Guimarães ressalta que pretende quitar o pagamento em quatro anos. A estatal deverá vender participações em áreas, como seguros e loterias, reforçar o financiamento imobiliário via mercado de capitais e investir em microcrédito a juros mais baixos.

“É fundamental discutir a parte imobiliária. Hoje temos problemas de funding. Via mercado de capitais, vamos vender de R$ 50 bilhões a R$ 100 bilhões para a Caixa continuar ofertando esse crédito”, diz o executivo. “Não me conformo em ver pessoas tomando dinheiro a 15%, 20% ao mês. O Brasil pode ser uma referência em microcrédito”, acrescenta. Nas próximas 30 semanas, Guimarães vai visitar todos os estados para conhecer o que a população acha da Caixa.

Caminho
Na opinião do economista-chefe da Modal Mais, Álvaro Bandeira, a sinalização é de que os bancos públicos vão financiar quem precisa é correta. “Quando se tem recursos escassos, é preciso delimitar e pulverizar mais o dinheiro para dar acesso maior às empresas menores e consumidores. É um processo que já vinha acontecendo e deve ter continuidade com os novos gestores”, avalia.

Para João Alberto De Negri, especialista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil tem um problema sério de crédito, que representa 50% do Produto Interno Bruto (PIB) — índice baixo se comparado com as nações desenvolvidas. “O grande desafio dos presidentes é fazer com que aumente essa relação, porque, hoje, há restrição grande. As taxas de juros são elevadas e é preciso aumentar a competição bancária”, ressalta.

De Negri afirma que a Caixa e o BB terão de ampliar a capacidade tecnológica e fomentar a modernização do setor, financiando fintechs e inovações para deixar o setor mais competitivo. “Não dá para fazer mais do mesmo. O grande desafio é deixar o crédito mais acessível para aumentar a produtividade e financiar empreendimentos inovadores”, argumenta.

Segundo dados do Banco Central (BC), mais de 80% do mercado de crédito está concentrado em cinco instituições — Caixa, BB, Bradesco, Santander e Itaú. O aumento da competitividade tende a reduzir a taxa, de acordo com analistas. O professor e economista Istvan Kasznar, da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que a agenda liberal faz muito sentido e é necessária para reduzir as taxas de juros “estratosféricas”. “Apesar de ter caído nos últimos anos, o fato é que há muita concentração. É preciso abrir o mercado bancário e reverter esse quadro”, aponta.

Maior desafio
Para o economista-chefe da Rio Bravo Investimentos, Evandro Buccini, caberá ao presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy, a tarefa mais difícil: refazer toda a política de financiamento de empreendimentos. “Ele terá de priorizar as empresas médias, o que é bom, porque as grandes, que já conseguem acesso ao crédito no mercado privado, são as principais beneficiadas. Isso mostrou que não houve impacto muito significativo no investimento do Brasil”, afirma. Buccini defende que a redução de ofertas de empréstimos às companhias maiores não deve ter um efeito danoso à economia.

Fonte: Correio Braziliense / CONTEC